Poemas de Sylvia Plath em XXI POEMAS, tradução de
Ronald Polito e Deisa Chamahum Chaves,
Ed. Livre, Mariana/MG, Brasil, 1994. "Metáforas Sou um enigma em nove sílabas, Um elefante, casa pesada, Um melão solto sobre dois brotos. oh fruta rubra, marfim, bons troncos! Esse pão que cresce fermentando. Dinheiro novo na bolsa cheia. Eu sou meio, palco, vaca prenha. Comi um saco de maçãs verdes, Tomei o trem do qual não se desce. O Enforcado Pelas raízes do meu cabelo algum deus se apoderou de mim. Fenvi em seus volts azuis como um profeta do deserto. As noites caíram longe dos olhos como uma pálpebra de lagarto: Um mundo de simples dias brancos numa órbita sem sombras. Apreensões Existe este muro branco, acima do qual o céu se faz — Infinito, verde, todo intocável. Anjos nadam ali, a as estrelas, em indiferença também. Eles são meu meio. O sol se esvai neste muro, sangrando suas luzes. Um muro cinza agora, arranhado a sangrento. Não há como escapar da mente? Passos atrás de mim espiralam poço adentro. Não há árvores nem aces neste mundo, Só existe um azedume. Este muro vermelho recua continuamente: Um punho vermelho, abrindo a fechando, Dois sacos de papel cinza — É disco que eu sou feita, disco a de um terror De rodar sob crazes a uma chuva de pietás. Num muro negro, pássaros inidentificáveis Giram suas cabeças a gritam. Não se fala de imortalidade entre eles! Frios brancos nos alcançam: Movem-se com pressa. Asilo de Velhas Fendidas em negro, feito besouros, Frágeis como cerâmica antiga Que um sopro faria em pedaços, As velhas se arrrastam aqui Para o sol nas rochas ou Se escoram contra o muro Cujas pedras guardam algum calor. Agulhas tecem num ave-adunco Contraponto a suas vozes: Filhos, filhas, filhas a filhos, Distantes a frios como fotos, Netos que ninguém conhece. A idade gasta o melhor pano negro Vermelho-ferrugem ou verde como líquens. Ao grito-da-conga os velhos fantasmas juntam-se Para enxotá-las da relva. De camas em fileiras como caixões As senhoras de touca riem. E a Morte, aquele abutre de cabeça branca. Estaca em halls onde o pavio da vela Encurta quando respiram. Para um órfão de Pai Você terá clareza de uma ausência, agora, Crescendo ao seu lado, como uma árvore, Uma árvore da morte, sem cor, um eucalipto australiano Desfolhado, castrado pelo relâmpago — uma ilusão, E um céu como um traseiro de porco, uma total falta de atenção. Mas justo agora você está mudo, E amo sua ignorância, O seu espelho cego. Olho E não vejo rosto senão o meu, e você acha engraçado. É bom para mim Fazer você puxar meu nariz, um degrau de escada. Um dia você pode tocar o que é errado Os crânios pequenos, as colinas azuis assoladas, o divinorrível silêncio. Até então seus sorrisos são dinheiro achado. Contusão A cor invade o lugar, púrpura baça. O resto do corpo está todo pálido, Cor de pérola. Numa fenda de rocha O mar suga obsessivamente, Uma cavidade o âmago de todo o mar. Do tamanho de uma mosca, A marca do destino Rasteja muro abaixo. O coração se fecha. O mar reflui, Os espelhos são cobertos. (traduções de Deisa Chamahum Chaves e Ronald Polito de Oliveira)"