Estudo Poético Para Um Corvo

Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore

The Raven - Edgar Allan Poe


Uma vez numa noite soturna e triste,
Enquanto eu lia, extenuado e cansado,
muitos livros e um alfarrábio estranho
de curiosos vocábulos de uma era já ida.
Enquanto cabeceei num quase cochilo,
de repente lá veio sussurrando com suavidade,
murmurando e sussurrando na memória —
uma voz misturada ao acalanto da tarde.
A tonalidade era de uma era olvidada
sem contornos claros e densos como sombra
do qual se escutava apenas o seu eco pardo
que perambulava pelas efígies suprimidas.
Tenso e distante era a efígie que ardia,
que murmurava entre os antanhos dizeres,
de antigas procissões que transitavam
opacas, por ruas ermas e túrgidas avenidas.
— É somente sua túrgida voz que trás consigo
melodias que ora se repercutiram no tempo!

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Ah, distintamente eu me lembro da noite,
estava eu naquele mês deserto de Maria
que brasa agonizante arredada e forjava
sua sombra errante no chão como efígie.
Ansiosamente eu desejei com alvor a dor;
envaidecido conseguir obter emprestado
significados comparados ao livro lido -
torpe duelo para este tempo já perdido.
Rara e radiante solidão d'alma que lida
com túrgidos e a quem os anjos suprimidos
recitam-se alvas nuanças do dia que apavora
com toscas orações de carcomidos grifos.
Agora minha alma cresce mais forte:
vacilante num oco então mais louco eco
das largas horas vãs pardas do já lido,
sincero eu imploro pela sua piedade.
— É somente sua túrgida voz que trás consigo
melodias que ora repercutiram-se no tempo!

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Sussurrante é tarde que se esculpiu
como alvas efemérides das nuvens
lânguidos símbolos que porfiam
pelas retinas vagas que se atinam.
De solitários carneiros eu recordo
daquele dia de uma soturna noite
que fraco e cansado eu peregrinava
por pálidas margens que fluíam do ido.
Profunda escuridão que eu perscrutei,
aspirar lá, e desejar saber o temor vivo,
duvidar, visionar sonhos que mortal algum,
ousaram nas memórias latentes do perdido.
— É somente sua túrgida voz que trás consigo
melodias que ora repercutiram-se no tempo!

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É o silêncio que se irrompeu do tempo,
da qual quietude não nos deu nenhum rastro
única palavra lá pronunciada pela tarde
era a palavra sussurrante que tangeu o ido.
Meu sussurro, um murmurante eco no oco,
dissimulado detrás da lívida palavra parda
pelas páginas supuradas do meu livro ocro
do qual somente aspirei à quietude do já ido.
Dentro da câmara de minha alma túrgida
dentro de mim queima uma efígie tarda
novamente ouvi seus sussurros alvos e algo
mais alto do que antes havia sido dito:
— É somente sua túrgida voz que trás consigo
melodias que ora repercutiram-se no tempo!

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Ah, túrgido é o esteta que segue sua efígie
que navega dentro de si e si como nauta
mistura-se há um passado negro e turvo
como que nas margens alvas do livro lido.
Ah, lânguido esteta que esculpiu sua efígie
fragmentada nos velhos alfarrábios do sebos
de curiosos vocábulos de uma era já esquecida
onde toscas musas sussurravam vãos concertos.
Somos tolos e desajeitados para auscultar sussurro
tão claro, embora de pequeno significado torvo,
porque nós não podemos nos fazer ouvir o soar,
concordar que nenhum silêncio vivo o pensamento.
— É somente sua túrgida voz que trás consigo
melodias que ora repercutiram-se no tempo!

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Éric Ponty





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