Catatau: Cartesanato*

Antônio Risério


Paulo Leminski, poeta-inventor, esteve ligado ao movimento de poesia concreta, grupo noigandres, tendo publicado textos na revista Invenção. Daí pra cá, passou oito anos trabalhando no seu livro Catatau, duzentas páginas de texto corrido, fole e fôlego, sem parágrafos ou capítulos. Enfim, livro editado, e nenhuma resposta inteligente da crítica, que eu tenha notícia. Mas, antes de falar do Catatau, quero dizer que o texto foi realmente escrito por Leminski. E digo isto porque a desatenção da crítica brasileira, nesses últimos tempos, tem roçado o escândalo. Me lembro que, quando Caetano Veloso lançou seu disco Araçá Azul, um mestre universitário fez um artigo, estampado no Suplemento Literário de Minas Gerais, analisando o estilo do compositor. Só que, entre as letras estudadas, algumas pertenciam a Torquato Neto. E as brilhantes conclusões do professor giraram a vácuo.1 Mais recentemente, uma antologia de poetas novos, organizada pela professora Heloisa Buarque de Holanda, tinha, como título, 26 Poetas. Lendo o livro, no entanto, encontramos 27 autores. Sim, um texto de Rogério Duarte, publicado na revista Navilouca, foi atribuído, mais uma vez, a Torquato Neto. Assim, garanto que o Catatau não foi escrito por Torquato, mas por Leminski. Mais uma observação: diante dos textos como o Catatau, as Galáxias (Haroldo de Campos), ou Phaneron (Décio Pignatari), é bom lembrar que, em seus primórdios, o concretismo evitou o texto longo como o diabo à cruz. O "retorno" a que estamos assistindo deve estar causando câimbra cerebral em vanguardistas fanáticos que cristalizam recursos táticos em enunciados dogmáticos. Mas vamos ao livro de Leminski.

1. Como numa ficción borgiana...

Há algo de Borges no Catatau. E a melhor maneira de mostrar esta presença é fazer uma excursão borgiana. Vejamos. Em O Engajamento Racionalista, Gaston Bachelard conta a estranhíssima história de um livro que encontrou na Biblioteca de Dijon, na parte referente aos trabalhos científicos dos séculos XVII e XVI 11.0 livro foi editado em Paris, 1667, e seu título completo é: Os Verdadeiros Conhecimentos das Influências Celestes e Sublunares. Com a Resposta a Formosas Perguntas tanto Astrológicas como Astronômicas. Segue a demonstração da virtude dos Astros e dos Planetas, do signo das doze Casas. Tudo posto em ordem e em III partes, que contêm IX Capítulos, com Figuras. O nome do autor é — pasmem — R. Decartes (sem o s). Mas a ficha antiga do livro havia sido corrigida, mais recentemente, de R. Decartes para R. Descartes. Assim: um livro raro, um senhor chamado Descartes, autor, ainda, de um certo Tratado sobre a Quantidade, que Bachelard não localizou.
Diz Bachelard: "Se o tomo do livro, mal composto e cheio de repetições, não fosse suficiente desde o primeiro momento para provar que o livro não poderia ser atribuído a Descartes, durante a leitura se encontram provas numerosas e decisivas. Tampouco se deve pensar que estamos diante do caso de um autor que escreve ao abrigo de um nome célebre para lançar sua obra. Com efeito, o autor não faz nada para enganar seu leitor. Fala de um enfermo que ainda vive em 1659, ou seja, nove anos depois da morte de Descartes. Relata uma aventura ocorrida em 1654, um sonho de 1657. Cita o horóscopo de Gassendi, feito por Jean-Baptiste Morin, que anunciava a morte do filósofo para 1650, enquanto que Gassendi — nos diz nosso autor — viveu seis anos mais. Na última página se refere a um livro impresso em 1652. Já se vê, não resta nenhuma dúvida. Não se trata senão de um homônimo, uma homonimia tranqüila que não parece pesada de carregar. Nem uma vez ao longo deste livro muito denso, e que se refere aos problemas mais diversos, se cita o nome do grande Descartes: não se invoca nenhum dos ensinamentos cartesianos. Descartes ignora Descartes."
A citação é longa, mas necessária. O Catatau gira em torno da figura de Descartes, numa situação imaginária, anos da dominação holandesa, Brasil. Como numa ficción de Borges, duplos de Descartes. Do patafísico R. Descartes àquele Renatus Cartesius, plantado por Leminski abaixo da linha do equador. E como, no Catatau, também há esses momentos de estranhamento, quando Descartes ignora Descartes ("sei mais de mim que de outros mas tem muitos outros em mim, que eu não sei"), entramos num mundo labiríntico, de imprevistos reflexos e reverberações.

2. Europa nos Trópicos

A anedota do Catatau é bastante simples. Leminski faz de conta que o filósofo René Descartes, sob o nome alatinado de Renatus Cartesius, veio ao Brasil em companhia de Maurício de Nassau. A idéia não é tão desarvorada quanto parece. Nassau viveu num período que pode ser considerado a idade de ouro da Holanda. Um país rico, capitalista, vivendo em regime democrático, para onde seguiam filósofos, artistas e pensadores de toda a Europa. Entre eles, Descartes, que lá viveu vinte anos, e onde recebeu instrução militar. Nessa época, deu-se a expansão holandesa, em tentativas de estabelecer colônias no Novo Mundo. Já em 1624, os holandeses tentavam ocupar a Bahia, sendo derrotados pela resistência local, que funcionava à base da guerra de guerrilhas. Seis anos mais tarde, Pernambuco caía nas mãos dos invasores. Conta-se que, em Olinda, pouco antes da invasão, Frei Antonio Rosado, num estilo que ecoa no Catatau, profetizou: "De Olinda a Olanda não há mais que a mudança de um i em a, e esta vila de Olinda se há de mudar em Olanda e há-de ser abrasada pelos olandeses antes de muitos dias; porque pois falta a justiça da terra há-de acudir a do céo." E Nassau governou do Maranhão até Sergipe.
A Recife holandesa foi a primeira cidade do país a ter realmente uma vida urbana. Aliás, o período da dominaçã holandesa se caracteriza especialmente pelo espírito empresarial e pelo progresso urbano. A população de Recife era variada e cosmopolita. Em 1640, reuniu-se aí primeiro Parlamento de que se tem notícia no continente. E Nassau trouxe, em sua companhia, artistas como Franz Post e Eckhout, inícios da pintura no país, e sábios como o naturalista Marcgravf, perito em astronomia, o primeiro a estudar um eclipse solar na América.
Numa ilha alagada (Antonio Vaz), sofrendo, como a Holanda, inundações na maré alta, Nassau construiu o palácio de Vrijburg. Havia aí um imenso horto tropical, de árvores frutíferas, plantas ornamentais, medicinais, etc. e um zoológico com araras, tucanos, tamanduás e outros espécimes da fauna dos trópicos. No meio do parque, o palácio do príncipe, decorado com objetos indígenas e telas da dupla Post-Eckhout.
Exatamente em Vrijburg, "oca de feras e casa de flores", se passa o Catatau. E o que fez Leminski pode ser assim resumido: ao projeto-Nassau (reproduzir a Holanda nos trópicos), Leminski superpôs o imaginário projeto-Descartes — transplantar, para o Brasil, a lógica européia.

3. Localizando Descartes

À maneira de Newton, Cartésio (Descartes) está sentado sob uma árvore em Vrijburg. Mas o que cai em sua cabeça não é a lendária maçã, e sim cocô de bicho-preguiça. A árvore é o posto de onde o filósofo observa a natureza tropical, fumando uma erva misteriosa (fuxopumo para viver), que lhe foi ministrada pelo enigmático Artyczewski, e contemplando a paisagem a lentes de luneta. Os "instrumentos" do filósofo parecem ter um significado bastante claro. A erva nativa que traga fala de um contato com o novo país. A luneta é seu oposto: "quantos vidros e lentes vai querer entre si e os seres?" Diante da nova realidade brasileira, Descartes, um dos pais da ótica, tenta racionalizar o que vê: "Medito uma medida para as mudanças deste mundo, onças, pares, palmos e quintais, a entrarem por um vidro saindo pelo outro."Mas o Brasil seiscentista baratina o filósofo: "E os aparelhos óticos, aparatos para meus disparates?" Desse modo, ao passo que o fumo é o signo de uma aproximação, a luneta, instrumento europeu, deixa-se ler como sinal de um distanciamento. Aqui, há, ainda, uma reflexão sobre o olhar. Ao filósofo interessa mais o "objeto-em-geral" que os seres individuais. Assim, Cartésio opõe a perfeição das figuras geométricas à imperfeição dos animais, "vítimas das formas em que se manifestam". Como se, por sonhar um mundo sem equívocos, Descartes temesse o visível. "Ver é uma fábula, — é para não ver que estou vendo."
Sentado sob a árvore, Cartésio está à espera de Artyczewski, cujo nome é grafado de várias maneiras ao longo do livro. Essa figura realmente existiu. Trata-se do fidalgo polonês Kristof Arciszewski, general das tropas holandesas, que foi expulso da Polônia por suas idéias antijesuíticas. Arciszewski era um dos oficiais estrangeiros de Nassau, ao lado do alemão Von Schokopp. No livro, a relação Cartésio-Arciszewski comporta desde lances de vampirismo até um caráter nitidamente homossexual. "Uma arara habilita-se a todos escândalos sem ser Artiszewski." E adiante: "Quando Artyszewski disse: dona Varsóvia, faça o favor — e a farsa fez-se de não vir tão óbvia, tal humor me subiu às abecedeiras, tive uma coisa: me despi de rebuços, me despeei de bruços, me dispus a abusos..."Mas mais claro é quando o amor homossexual é apresentado na materialidade do texto, em cópula de palavras: "Renatus Cartesius, ah, Articzewski, Cartesiewski, esperado a coberto." Além ou mais que isso, Artyczewski serve de ponte entre o pensamento europeu e o novo mundo. Descartes o espera para esclarecer dúvidas que atormentam.

4. O Projeto-Descartes

As páginas iniciais do Catatau, um bestiário, falam do europeu maravilhado com a fauna e a flora tropicais. "Bestas geradas no mais aceso do fogo do dia... Comer esses animais há de perturbar singularmente as coisas do pensar. Palmilho o dia entre essas bestas estranhas, meus sonhos se populam da estranha fauna e flora: o estalo das coisas, o estalido dos bichos, o estar interessante: a flora fagulha e a fauna floresce..." O pasmo de Descartes lembra Darwin, deslumbrado, de passagem pela Bahia, à bordo do navio inglês Beagle. Dessa viagem de Darwin, cinco anos coletando espécimes de animais e vegetais nas costas da América do Sul e das ilhas do Pacífico, nasceu o livro Viagem de um Naturalista ao redor do Mundo. Em suas anotações baianas, lemos: "delícia é termo insuficiente para exprimir as emoções sentidas por um naturalista no seio de uma floresta brasileira." A novidade dos parasitas, a beleza das flores, o verde das ramagens, o zumbido dos insetos, o silêncio no recesso das matas "foram para mim motivos de contemplação maravilhosa", diz o cientista. E mais: "Para o amante da história natural, um dia como este traz consigo uma sensação que jamais se poderá, outra vez, experimentar tão grande prazer." Para Cartesius, todavia, este funnanimal world, como diria Joyce, tem outro sentido.
O problema, agora, é pensar o Brasil. Descartes é o filósofo das idéias claras, do pensamento sistemático. E a sua lógica cristalina é submetida à pressão dos trópicos. Aqui, a clareza discursiva se emaranha. O Brasil, "país cheio de brilho e os bichos dentro do brilho", é o fenômeno novo e exuberante que desafia o racionalismo cartesiano. Mesmo o cogito ergo sum não resiste à temperatura do novo ambiente. Descartes, "exímio dos mais hábeis nos manejos de ausências", fraqueja. E a exigência de idéias claras e distintas acaba tornando-se incômoda e até dolorosa. Os esquemas "clássicos" são camisas-de-força estourando. Em suma, vemos a lâmina da lógica européia irresistindo ao calor dos trópicos. Fracassou, por motivos vários, a colonização holandesa, o projeto-Nassau. Leminski dá conta de um outro fracasso: pensar o Brasil em pensamento europeu. Mas não fica aí. Uma miragem povoa a cabeça do filósofo, dizendo dos frutos desse choque "cartesiano-tropical", como diria o próprio Leminski. Brasília, "alegria dos mapas", é um bálsamo para os olhos de Cartésio. E a própria poesia concreta, de onde vem Leminski, está de certa forma ligada a esse atrito.

5. Linguagem

O Catatau não é romance nem ensaio. Texto conceitual e poético, além ou aquém de gêneros. Rede de signos: "O verbo acende um fogo, o sujeito vem se aquecer..." Rarefaço do enredo. A fabulação é reduzida ao extremo: "faço fábula de fábula rasa." E se há alguma causalidade ela é de ordem puramente sígnica e conceitual.
Leminski, como Oswald, reconhece a riqueza dos bailes e das frases feitas, explorando e manipulando frases prontas do repertório coloquial, torcendo expressões codificadas, etiquetas lingüísticas, etc. (p. ex.: bico sem saída, de trás para radiante, exame de consciência, etc.). Humor trocadilhesco (toda pérola tem seu dia de ostracismo / o sistema está nervoso). Gosto por inversões silábicas e fonéticas de efeitos surpreendentes (dansálias, nadarilho); por fissuras verbais (tal, quem sabe, vez? / cada um mais vérico que o que o precede); por construções tméticas (conviceversa, contagotagiosas); por aliterações e paranomásias (flama flamenga em fala mulherenga / meias colcheias e colmeias cheias); por pseudoditados (a pressa é a mãe do precipício); por uma curiosa mistura de arcaísmos e gírias modernas (dias não dou nem dois pra ele deixar de onda e mudar de idéia); por citações e alusões a outros textos, como esta a Marx: "Pacômio busca abrigo num arquipélago de caveiras de porco. E radical come as raízes das coisas." Leminski faz, ainda, largo uso da palavra-montagem joyciana: nenhum-gatu, anarcoíris, desafiatlux, vampirilâmpagos, amordacéus, alucilâmina, pesadédalo, etc. E lança-se a incursões metalingüísticas: "Eu comento hipóteses. Trabalho com hipóteses. Fabrico hipóteses. Façamos uma hipótese, por exemplo, este livro." E adiante: "Livro, já estiveste dentro de um sonho e te fiz despertar porque o sol é melhor que o sonho."
De outra parte, Leminski conduz o texto a uma aventura extraverbal. Aqui, concentra-se no "ver" que há em ver-bal, partindo para uma iconização (no sentido de Peirce) da escrita. Veja-se este trecho: "Formigas. Lente. FORMIGAS." Com a entrada das lentes, as formigas aumentam... e isto é visível efetivamente. Adiante, o verbal admite o concurso de elementos sonoro-visuais, em outro momento de semiotização do texto, quando Leminski escreve repepetitivo ou iguauaual. Há outros momentos em que a fala de Cartésio desliza na pura sonoridade das palavras, música verbal, melopéia: "Spix, cabeça de selva, onde uma aiurupara está pousada em cada embuayembo, uma aiurucuruca, um aiurucurau, uma aiurucatinga, um tuim, uma tuipara, uma tuitirica, uma arara, uma aracacá, uma araracã, uma araracanga, uma araraúna, em cada galho do catálogo de caapomonga, caetimay, taioia, ibabiraba, ibiraobi."
Enfim, riqueza sonora e semântica, invenções léxicas, minúcia artesanal num texto de textura paranomástica. Lembro-me do que Harry Levin disse do estilo de Joyce: luxuriante profusão de linguagem. A frase se aplica às maravilhas ao Catatau. Aqui, o estilo exuberante, caudaloso, é uma aparição, a nível da matéria textual, daquela exuberância tropical que fascina e apavora Cartésio.

6. Mapear o Catatau

Vamos, uma vez mais, a Joyce. A estrutura de Ulysses é altamente complexa. Joyce, como disse Pound, tomou o andaime emprestado a Homero. Só que aí passou sete anos tecendo um labirinto de conexões rigorosamente planejadas. Resultado: uma indescritível profusão barroca de detalhes, intrincado mosaico cujo acesso só se abre a um leitor ideal com uma insônia ideal. No cruzar e entrecruzar de citações mítico-místicas, históricas e literárias, Stuart Gilbert chegou mesmo a descobrir que Joyce andou dispersando fragmentos de temas ao longo do livro, de modo que o leitor, compulsoriamente metamorfoseado em Ísis, devesse reuni-los, sob pena de não lograr completo entendimento do texto. E se Ulysses é um livro dificílimo, que falar do Finnegans Wake? Como bom joyciano, Leminski elaborou um texto que bem merece uma skeleton key em escala reduzida. Está claro que não encontramos no Catatau as barreiras eruditas que tornam quase impenetráveis os textos joycianos, exigindo verdadeiras provas de atletismo intelectual. E, de resto, não haveria muito sentido em tal empresa, tantos anos depois.
Mas mapear o Catatau é tarefa para mais tempo e atenção. De qualquer forma, como anotações, podemos falar de seus temas recorrentes, temas secundários que se repetem ao longo do texto. Por exemplo: volta e meia, topamos com Zenão, o eleata, discípulo de Parmênides, e, segundo Hegel, "o iniciador da dialética". Leminski faz uso dos famosos "argumentos" de Zenão. Lá está o paradoxo de Aquiles e da Tartaruga ("a tartaruga guarda de memória o segredo da velocidade", Leminski). Ainda Leminski: "a gargalhada de Zenão chega no alvo antes da flecha!". Aqui, mais um argumento, "a flecha em vôo repousa", disse Zenão, acenando com a relatividade do movimento. O desfecho, no Catatau, é surpreendente: "A flecha já está aqui, abriram o ovo: Zenão suicidou-se com a flecha antes que alguma tartaruga aventureira dela lançasse mão."
Daqui, os "temas" se interpenetram e se desdobram segundo um método que, em psicanálise, é chamado de "condensação". Opera-se por aglutinações, a partir do que aproxima diversos elementos, ou seja, à base de similaridades. Assim, a flecha de Zenão desdobra-se na flecha que atingiu o calcanhar-de-aquiles ("que flecha é aquela no calcanhar daquilo?", pergunta Leminski) e nas flechas persas que cobriram o sol dos gregos. "Flechas persas, intermediárias entre os gregos e o sol: incendiárias." E ainda: "Tire a flecha e o alvo, fica o quê? Um persa pensando." Só adiante vamos encontrar uma pista(?), situando as alusões ao "Impropério persa", quando Leminski reclama a ausência de um relato persa das guerras médicas. Outro "tema": Occam, o monge herético, inimigo da ortodoxia papal. Occam aparece no texto em linguagem retorcida e arrevezada, cheia de montagens verbais, bi ou polilíngüe, "língua estilingue", a meio caminho entre o estilo joyciano e o esperanto de Zamenhof.

7. Plano Geral

Para encerrar, digamos que o Catatau ocupa um lugar raro na prosa literária brasileira. O que pintou depois das aventuras textuais de Guimarães Rosa? Quase nada. Uma exceção, sem dúvida é o livro-viagem Galáxias, de Haroldo de Campos. Por tudo isso, o Catatau é uma surpresa e uma alegria. Não só em termos brasileiros. O livro de Leminski deve, sem esforço, ser colocado ao lado do que há de melhor na produção literária do continente. Ao lado de Cortázar, do melhor Cortázar, aquele da Prosa del Observatorio, e do cubano Cabrera Infante, por exemplo.

 

1 O título do artigo é “Múltiplo Caetano”. Seu autor é o professor universitário Affonso Romano de Sant'Ana.

 

Antônio Risério

 

*OBS.: Publicado originalmente na Revista José, 1976.

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