p. leminski
la vie en close
L'ÊTRE AVANT LA LETTRE la vie en close c'est une autre chose c'est lui c'est moi c'est ça c'est la vie des choses qui n'ont pas un autre choix clique aqui para ler traduções deste poema ° sossegue coração ainda não é agora a confusão prossegue sonhos afora calma calma logo mais a gente goza perto do osso a carne é mais gostosa ° ERRA UMA VEZ nunca cometo o mesmo erro duas vezes já cometo duas três quatro cinco seis até esse erro aprender que só o erro tem vez ° DONNA MI PRIEGA 88 se amor é troca ou entrega louca discutem os sábios entre os pequenos e os grandes lábios no primeiro caso onde começa o acaso e onde acaba o propósito se tudo o que fazemos é menos que amor mas ainda não é ódio? a tese segunda evapora em pergunta que entrega é tão louca que toda espera é pouca? qual dos cindo mil sentidos está livre de mal-entendidos? ° PROFISSÃO DE FEBRE quando chove, eu chovo, faz sol, eu faço, de noite, anoiteço, tem deus, eu rezo, não tem, esqueço, chove de novo, de novo, chovo, assobio no vento, daqui me vejo, lá vou eu, gesto no movimento ° o bicho alfabeto tem vinte e três patas ou quase por onde ele passa nascem palavras e frases com frases se fazem asas palavras o vento leve o bicho alfabeto passa fica o que não se escreve ° AMOR BASTANTE quando eu vi você tive uma idéia brilhante foi como se eu olhasse de dentro de um diamante e meu olho ganhasse mil faces num só instante basta um instante e você tem amor bastante ° MALLARMÉ BASHÔ um salto de sapo jamais abolirá o velho poço ° O QUE PASSOU, PASSOU? Antigamente, se morria 1907, digamos, aquilo sim é que era morrer. Morria gente todo dia, e morria com muito prazer, já que todo mundo sabia que o Juízo, afinal, viria, e todo mundo ia renascer. Morria-se praticamente de tudo. De doença, de parto, de tosse. E ainda se morria de amor, como se amar morte fosse. Pra morrer, bastava um susto, um lenço no vento, um suspiro e pronto, lá se ia nosso defunto para a terra dos pés juntos. Dia de anos, casamento, batizado, morrer era um tipo de festa, uma das coisas da vida, como ser ou não ser convidado. O escândalo era de praxe. Mas os danos eram pequenos. Descansou. Partiu. Deus o tenha. Sempre alguém tinha uma frase que deixava aquilo mais ou menos. Tinha coisas que matavam na certa. Pepino com leite, vento encanado, praga de velha e amor mal curado. Tinha coisas que têm que morrer, tinha coisas que têm que matar. A honra, a terra e o sangue mandou muita gente praquele lugar. Que mais podia um velho fazer, nos idos de 1916, a não ser pegar pneumonia, e virar fotografia? Ninguém vivia pra sempre. Afinal, a vida é um upa. Não deu pra ir mais além. Quem mandou não ser devoto de Santo Inácio de Acapulco, Menino Jesus de Praga? O diabo anda solto. Aqui se faz, aqui se paga. Almoçou e fez a barba, tomou banho e foi no vento. Agora, vamos ao testamento. Hoje, a morte está difícil. Tem recursos, tem asilos, tem remédios. Agora, a morte tem limites. E, em caso de necessidade, a ciência da eternidade inventou a criônica. Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. ° minha alma breve breve o elemento mais leve na tabela de mendeleiev ° sirenes, bares em chamas, carros se chocando, a noite me chama, a coisa escrita em sangue nas paredes das danceterias e dos hospitais, os poemas incompletos e o vermelho sempre verde dos sinais ° (AUS) simples como um sim é simples mente a coisa mais simples que ex iste assim ples mente de mim me dispo des (aus) ente ° Andar e pensar um pouco, que só sei pensar andando. Três passos, e minhas pernas já estão pensando. Aonde vão dar esses passos? Acima, abaixo? Além? Ou acaso se desfazem no vento sem deixar nenhum traço? ° ROUND ABOUT MIDNIGHT um vulto suspeito e o pulo de um susto à solta no peito no beco sem saída caminhos a esmo o leque de abismos entre um eco e seus mesmos ° um homem com uma dor é muito mais elegante caminha assim de lado como se chegando atrasado andasse mais adiante carrega o peso da dor como se portasse medalhas uma coroa um milhão de dólares ou coisas que os valha ópios édens analgésicos não me toquem nessa dor ela é tudo que me sobra sofrer, vai ser minha última obra ° isso sim me assombra e deslumbra como é que o som penetra na sombra e a pena sai da penumbra? ° minha memória evapore feito a água de uma lágrima minha lembrança se vá sem deixar lembrança alguma em seu devido lugar se um dia eu esquecer que você nunca me esquecerá ° LUZ VERSUS LUZ de ilusão em ilusão até a desilusão é um passo sem solução um abraço um abismo um soluço adeus a tudo que é bom quem parece são não é e os que não parecem são ° LIMITES AO LÉU POESIA: "words set to music" (Dante via Pound), "uma viagem ao desconhecido" (Maiakovski), "cernes e medulas" (Ezra Pound), "a fala do infalável" (Gothe), "linguagem voltada para a sua propria materialidade" (Jakobson), "permanente hesitação entre som e sentido" (Paul Valery), "fundação do ser mediante a palavra" (Heidegger), "a religião original da humanidade" (Novalis), "as melhores palavras na melhor ordem" (Coleridge), "emoção relembrada na tranquilidade" (Wordsworth), "ciência e paixão" (Alfred de Vigny), "se faz com palavras, não com ideias" (Ricardo Reis/Fernando Pessoa), "um fingimento deveras" (Fernando Pessoa), "criticism of life" (Mattew Arnold), "palavra-coisa" (Sartre), "linguagem em estado de pureza selvagem" (Octávio Paz), "poetry is to inspire" (Bob Dylan), "design de linguagem" (Decio Pignatari), "lo imposible hecho posible" (Garcia Lorca), "aquilo que se perde na tradução" (Robert Frost), "a liberdade da minha linguagem" (Paulo Leminski)... ° |
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