Neuza Pinheiro
soltos, roxos, trêmulos
brisa da noite
a  t  r  a  v  e  s  s  a
teia de aranha
orvalhada

um leve tremor de trevos





quem alma...
meu cachorro tem sualma uma alma de cachorro Eu tenho a minha, minhalma Será que voa se morro? Ah, samambaia mimosa seria verde sualma? Ou, quem sabe, verde rosa verosade samambalma? O pé de ipê tem sualma uma alma florisbela Eu tenho a minha, minhalma florispê, alminhadela? Ai, marosa, maramado, será lazúli sualma? Ou quiçá, verdazulado diz, almar, que a minha salga! Clarispectros espelhos Hilst, vida, de si mesma desalmares são vermelhos quem alma nave alma lesma? Ô, quasímodo, quibungo, falanges de querubins, belezas, cores do mundo, quantas almas tenho em mins? Tantas (v) árias salmodia minhalma oh, alma mia... em plânctons aos meus pés o mar se atira em plânctons mar em branco sem pactos nem planos chegou a mar de rosas foi a mar de enganos agora não passa de um mar desfeito em plânctons ˜ galactos gatos... sempre mantêm aquela postura de pluma e lá se vão uma a uma pé ante pé pétala sobrepétala como se pedra fosse espuma na tarde a árvore silêncio de aeronave arbor raiz é o riso da árvore a sombra céu quando abre as folhas bailado breve leve rito de passagem quando engravida de cores fica ali tão paraíso nos braços um mar de flores o fruto de sobreaviso langue antes depôs lânguidas metáforas nos braços do rio Calmo, cúmplice abriu sedoso o fino crepe Mostrou em duro fundo as pedras proclamando um novo dialeto O rego limpo o peixe liso coisas seu reflexo deixe o tempo em aberto ˜ avio ao vento um rodopio um giro um redemoinho mas o vândalo vara o vácuo sem nexo e num abraço convexo derruba o vinho no começo alguma coisa trava a tarde pelo meio ela finge que dispara e na explosão da primeira cigarra a tarde se derrama ou desamarra? delicado me falta um pouco de delicadeza como o fio que ligasse o fogo à estrela ou o ar que da asa livrasse a pena me falta um pouco de delicadeza me falta aquele tento de árvore que acena bem atrás do vento lunera me cede tuas sedas que cedo minhas trevas me sedo em tuas sedas tão leve que me levas ˜ Astréia agora vou solar meu próprio fado numa pulsão que em cada pedra e prado o coração fique parado vou encantar cadolhodáguaberto numa canção que em riso o rio fique no seu leito quieto mesmo quando amar por perto em toda rua vou passar contralta e no meu grave sol fejar se faça abrir sinais quando vá muito alta gatos em brasa com sofreguidão de plumas desfilarão cristais enviesados meu desconcerto num ciscar de estrelas vai assombrar a rota dos reis magos Meu dedilhar na barra este orbe há de alumbrar até desesperanto Vou me bordar no lenço dos acordes me redesenhar pranto por pranto o lado negro, as entorpecências o pretérito vão, inacabado os torpes descalabros, turbulências não me desviarão da minha rota vagarei tão diva tão alucinógena que de cabo a rabo em firmamento desanuviarei a Via-Láctea e todo corpo que se envolva em prata recenderá a incenso de milagre Então descansarei nos véus da aurora até que a outra noite me deflagre vá neste pin go que os cila entre a torneira e a pia um breve exer cicio de melancolia abre fecha os olhos e quando de novo olhares toca o tempo em cada átimo instantes são colares adorno dos atos

 

 

Neuza Pinheiro?

 

Copyright © Neuza Pinheiro.

Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: Elson Fróes