|| ||S|| ||O|| ||N|| ||E|| ||T|| ||Á|| ||R|| ||I|| ||O|| ||||| ||||| ||||| ||

Ronaldo Werneck Silva (Cataguases MG 1943)

Morou no Rio, onde colaborou na imprensa e se aposentou pelo Banco do Brasil após exercer cargo de editoria no CCBB, voltando à cidade natal, onde continua atuando entre a poesia e a imprensa, entre o teatro e a música. Com Joaquim Branco editou periódicos poéticos na linha do poema-processo, movimento do qual foi representante em Minas. Seu experimentalismo derivou, nos 70, para o heterogêneo terreno do que circunstancialmente se chamou "poesia marginal", mas em termos de soneto (ora esticologicamente sintético, ora estroficamente hipertrófico) seu processo não é concreto nem clássico, mas personalisticamente werneckiano, o que inclui a esporadicidade:


SON/ETO & 1/2

vai num a
feto o verão
num a
braço num
só laço
no coração
de março

7 vezes 7 traços
7 meses pânicos
no alvéolo-
cisterna
- e só um sol
atômico
aderna

esperma
stress
estrôncio
no óvulo
alvo

novelo
atônito


ALDEBARÃ

o sangue, o tédio rubro
fluxo, fluxo de dor calva,
vence-me quando descubro
lençóis, desespero, alva.

caro escudo essencial
a noite, redescoberta
ferida potencial,
finda só, nua, aberta.

já não mais, hélas!, combato
anti-sono o assassino
espanto, herói tombado.

pela arena clara, o hino
lançado, o cruel fado
ressurgindo: sol sons símbolos.


CONCEPÇÃO COM SOL

das dunas, das brumas, rociferando
o mar, mar, marcanto, mar marejando.
caleidoscópio liberto, o sol
sol já faísca verde-azul no anzol.

por trás da aurora meu canto chegando
aberto, meu canto sol abandono
de um só sólido salto aconchegando
o sol, súbita noite-estrela-sono.

somanhã de cores e escudo e espada
cai de um escuro céu e se dissolve
guerreiro de um tempo de sol e nada.

a noite fascina, mas não resolve:
meu canto é sonho, som de sóis libertos
onde cantamos juntos, claro, certos.


RIMBAUD ME ROUBOU (RELEITURA)

mar que rimbaud retomou
ao largo bateau à toa
poita prumo proa
ouro-diss-eu seda à tona

mar de bruços na janela
onde divaga meu asco
arco vela casco
farol barco sentinela

mesclado de eternidade
molhado de tarde
mar mar melado de sol

onde nada só sobrou
mar d'or-feu anzol
mar que rimbaud me roubou

Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: elson fróes