SOBRE YUMÊ
de Claudio Daniel
Claudio Daniel é, sem dúvida, um poeta com resultados e repertório bem acima da média dos que escrevem nos últimos dez anos, pelo menos. Sua poesia, tal como em Yumê, não se conforma a modernismos (entre nós, há apreço sobretudo pelo "modernismo" dos anos 30 e 40 e pavor pela década de 20!) e também às diluições do concretismo. Imagina outros caminhos. Caminhos pessoais, de investigação.
Claudio, com refinada técnica e sentidos em estado de alerta, se propõe ao diálogo. Com os simbolistas, como Ernâni Rosas, com o melhor Haroldo de Campos, com a vida e a visualidade de um certo oriente, com o neobarroco, com Jorge Luis Borges, com o mundo e consigo mesmo.
O cuidado de Claudio com palavras reforça consistentemente seu lirismo como, por exemplo, em Tabi: "o "vento / açoita / bambus / dançam sombras. / no caule da vagem, / o orvalho / resvala / na lua". Lirismo contrastado, muitas vezes, por imagens abruptas: "o fuji / apunhala / a névoa". E entrecortado sempre por pequenas narrativas.
Yumê explora o mundo "no tumulto de pequenos pés". "Pés" entendidos como ritmos vivos. Claudio Daniel merece, em suma, leitura e atenção.
Régis Bonvicino / janeiro de 1999
(O texto acima foi retirado da "orelha" de "Yumê", 1999)